O outro lado da lua

sexta-feira, setembro 23, 2005

O Perfume

"Grenouille tomou consciência que, sem a posse deste perfume, a sua vida perderia todo o sentido. Precisava conhecê-lo até ao mais ínfimo detalhe, até à última e mais subtil das suas ramificações; não lhe bastaria a recordação complexa que dele pudesse guardar. Desejava imprimir este perfume apoteótico, como um sinete, nas pregas da sua alma obscura, e em seguida, estudá-lo em pormenor e conformar-se finalmente com as estruturas internas desta fórmula mágica como orientação do seu pensamento, da sua vida e do seu olfacto.
Avançou lentamente na direcção da jovem, aproximou-se cada vez mais, penetrou no telheiro e deteve-se um passo atrás dela. A jovem não deu por nada.
Era ruiva e usava um vestido cinzento e cavado. Os braços eram muito brancos e tinha as mãos amarelecidas devido ao sumo das ameixas que preparava. Grenouille estava inclinado sobre ela e aspirava agora o seu perfume sem qualquer mistura, tal como se lhe desprendia da nuca, dos cabelos, do decote do vestido e absorvia-o como a uma suave brisa. Nunca se sentira tão bem em toda a sua vida. Em compensação, a jovem começava a ter frio.
Não via grenouille. Sentia, porém, uma angústia, um estranho calafrio, como quando se é repentinamente tomado de um antigo medo vencido. Tinha a sensação de que nas suas costas passava uma corrente de ar frio, como se alguém tivesse empurrado uma porta que dava para uma cave húmida e gigantesca. Pousou a faca de cozinha, cruzou os braços sobre o peito e virou-se.
Ficou tão petrificada de medo ao avistá-lo, que ele dispôs de muito tempo para lhe colocar as mãos à volta do pescoço. Ela não tentou gritar, não se mexeu, não esboçou qualquer movimento para se defender. Ele, por seu lado, não via o rosto de feições delicadas, sardento, a boca vermelha, os olhos grandes de um verde luminoso, porque mantinha os olhos cuidadosamente fechados enquanto a estrangulava e a sua única preocupação residia em não perder a mínima parcela do seu perfume."

Patrick Süskind

sábado, setembro 17, 2005

Desporto

Uma forma comprovada de ir ganhando saúde: são muitos os benefícios, desde a diminuição da tensão arterial, o controlo da diabetes, fora o controlo do peso e das dislipidémias tipo a hipercolesterolémia… também o aumento da imunidade (das defesas contra as doenças), e a oxigenação cerebral, favorecendo a actividade neural, facilitando deste modo a aprendizagem. Pois é, mas o mais fantástico é o bem-estar que proporciona a nível emocional: a calma, a sensação de leveza, uma atitude mais positiva…
Enfim, uma chama que surgiu há algum tempo, mas que decerto não se vai apagar; aliás, arrisco mesmo dizer que vai continuar a crescer, a vigorar…
Enfim, uma paixão que não nos consome, dá-nos força, boa disposição e um bem-estar físico e psíquico que não quero abandonar…
Enfim, uma busca de um equilíbrio que quero abraçar com todas as minhas forças, mais não seja por ser uma paixão… e uma paixão, qualquer que seja, vive disso mesmo, tal como uma flor que necessita de ser regada para que não murche…

quarta-feira, setembro 14, 2005

Regresso às aulas

Fim de férias e o começo de um novo ano lectivo.
O regresso às aulas e à mesma rotina do dia-a-dia... enfim a certeza de que as manhãs passadas a dormir chegaram ao fim, que o culto do ócio ficou adiado por mais um ano e que a praia já lá vai deixando doces lembranças para mais tarde recordar...
Mas nem tudo é entediante... aliás, confesso que para mim a única coisa entediante é o regresso a uma rotina em que somos obrigados mais a engolir matéria do que propriamente a estudar... e até me atrevo a dizer que gosto de estudar, mesmo sob o iminente perigo de ser queimada na praça pública... mas na verdade a aprendizagem propriamente dita sempre me fascinou. E há também os amigos, os colegas, o convívio, o desejo de investir em novas actividades e aprendizagens... Enfim, um ilimitado número de projectos dos quais apenas alguns vão dar frutos, sendo que os outros vão sendo adiados até surgirem novas oportunidades...
E aos que não partilham do meu entusiasmo, ânimo, porque as dificuldades são ultrapassáveis, desde que haja vontade, esforço e empenho. Bom trabalho!

quarta-feira, setembro 07, 2005

Realidade ou Fantasia

Há uma barreira facilmente transponível entre estes dois mundos tão distintos… nem sempre é fácil combatê-la: basta ver o caso dos esquizofrénicos em que vivem num mundo totalmente seu, completamente à parte daquilo a que nós designamos por realidade; também aqueles que sofrem do distúrbio de múltipla personalidade têm alguma dificuldade em se adaptar ao mundo real… muitas vezes difícil de aceitar com as suas vicissitudes… muitas vezes eu pergunto-me o que nos separará destas pessoas e sinto-me perdida… porque qualquer um de nós tem uma probabilidade de vir a sofrer de um qualquer distúrbio que nos desvia de tudo e de todos… e nesses momentos sinto-me realmente com medo de perder tudo aquilo que vamos construindo ao longo do tempo na nossa mente... porque afinal todos temos fantasias, todos temos sonhos, todos nos movemos segundo metas que idealizamos; e mais, tal como diria o poeta, “o sonho comanda a vida” e, no meu entender, sem sonhos não há felicidade possível, porque caminharíamos como meras máquinas, sem vontade própria, num mundo terrivelmente real onde a tragédia é encarada como normal e onde a vida passa a ter o mero significado de sobrevivência. Pois bem, recuso peremptoriamente abandonar os meus sonhos, porque o importante é ter noção dos seus limites, ter noção que são sonhos… o importante é não deixar que a realidade nos ofusque os sentimentos porque eles são a nossa essência, aquilo que nos torna verdadeiramente humanos… mesmo que nos desiludamos, que choremos, que nem sempre possamos concretizar as nossas expectativas…
Porque não tenho vergonha da minha sensibilidade… recuso-me a desistir de sonhar, até ao momento em que a esperança de encontrar o meu caminho se extinga por entre a maldade do mundo e dos outros.