O Perfume
"Grenouille tomou consciência que, sem a posse deste perfume, a sua vida perderia todo o sentido. Precisava conhecê-lo até ao mais ínfimo detalhe, até à última e mais subtil das suas ramificações; não lhe bastaria a recordação complexa que dele pudesse guardar. Desejava imprimir este perfume apoteótico, como um sinete, nas pregas da sua alma obscura, e em seguida, estudá-lo em pormenor e conformar-se finalmente com as estruturas internas desta fórmula mágica como orientação do seu pensamento, da sua vida e do seu olfacto.
Avançou lentamente na direcção da jovem, aproximou-se cada vez mais, penetrou no telheiro e deteve-se um passo atrás dela. A jovem não deu por nada.
Era ruiva e usava um vestido cinzento e cavado. Os braços eram muito brancos e tinha as mãos amarelecidas devido ao sumo das ameixas que preparava. Grenouille estava inclinado sobre ela e aspirava agora o seu perfume sem qualquer mistura, tal como se lhe desprendia da nuca, dos cabelos, do decote do vestido e absorvia-o como a uma suave brisa. Nunca se sentira tão bem em toda a sua vida. Em compensação, a jovem começava a ter frio.
Não via grenouille. Sentia, porém, uma angústia, um estranho calafrio, como quando se é repentinamente tomado de um antigo medo vencido. Tinha a sensação de que nas suas costas passava uma corrente de ar frio, como se alguém tivesse empurrado uma porta que dava para uma cave húmida e gigantesca. Pousou a faca de cozinha, cruzou os braços sobre o peito e virou-se.
Ficou tão petrificada de medo ao avistá-lo, que ele dispôs de muito tempo para lhe colocar as mãos à volta do pescoço. Ela não tentou gritar, não se mexeu, não esboçou qualquer movimento para se defender. Ele, por seu lado, não via o rosto de feições delicadas, sardento, a boca vermelha, os olhos grandes de um verde luminoso, porque mantinha os olhos cuidadosamente fechados enquanto a estrangulava e a sua única preocupação residia em não perder a mínima parcela do seu perfume."
Patrick Süskind
Avançou lentamente na direcção da jovem, aproximou-se cada vez mais, penetrou no telheiro e deteve-se um passo atrás dela. A jovem não deu por nada.
Era ruiva e usava um vestido cinzento e cavado. Os braços eram muito brancos e tinha as mãos amarelecidas devido ao sumo das ameixas que preparava. Grenouille estava inclinado sobre ela e aspirava agora o seu perfume sem qualquer mistura, tal como se lhe desprendia da nuca, dos cabelos, do decote do vestido e absorvia-o como a uma suave brisa. Nunca se sentira tão bem em toda a sua vida. Em compensação, a jovem começava a ter frio.
Não via grenouille. Sentia, porém, uma angústia, um estranho calafrio, como quando se é repentinamente tomado de um antigo medo vencido. Tinha a sensação de que nas suas costas passava uma corrente de ar frio, como se alguém tivesse empurrado uma porta que dava para uma cave húmida e gigantesca. Pousou a faca de cozinha, cruzou os braços sobre o peito e virou-se.
Ficou tão petrificada de medo ao avistá-lo, que ele dispôs de muito tempo para lhe colocar as mãos à volta do pescoço. Ela não tentou gritar, não se mexeu, não esboçou qualquer movimento para se defender. Ele, por seu lado, não via o rosto de feições delicadas, sardento, a boca vermelha, os olhos grandes de um verde luminoso, porque mantinha os olhos cuidadosamente fechados enquanto a estrangulava e a sua única preocupação residia em não perder a mínima parcela do seu perfume."
Patrick Süskind
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